quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ensaio sobre uma família


Idalina nasceu em 6 de Julho de 1926 na capital mineira, Belo Horizonte, onde viveu apenas até os quatro anos. Veio para Juiz de Fora e, apaixonou-se pela cidade e encontrou um amor para toda a vida. Dona de uma teimosia ímpar viveu em tempos onde a mulher não mostrava as pernas e o sexo era só depois do casamento. Aos 16 anos conheceu aquele que seria dono do maior coração de todos para o resto de sua vida, Walter. Sete anos mais velho que ela, o que não impediu o casal de viver uma doce paixão.

Idalina e Walter


Quando ela completou 20 anos, casaram-se e tiveram filhos, tantos que dava para formar um time de futebol, 11. Carreira que o pai seguia no time consagrado da cidade, o Tupi. Mantinha para gozar de segurança e uma vida tranquila um emprego de bancário, o qual conseguiu pela boa formação que teve na adolescência. A paixão deles, a magia com que os olhares se cruzavam, as cartas que eram escritas e os beijos que eram trocados, foram inexplicáveis. Foram morar em uma casa simples no Bom Pastor, porém enorme para conseguir abrigar tantas crianças.

A história poderia ser perfeita se a continuação fosse: os filhos cresceram se formaram tiveram outros filhos e que os avós hoje mimam e ensinam a importância de um grande amor... mas, não foi bem assim.

Os filhos cresceram sim, escolheram o Fluminense como time do coração, uns estudaram e se dedicaram outros não. Mas se formaram mesmo assim e tiveram filhos, que hoje são mimados pela Vó. E cadê você Vô? A história perfeita criou um defeito irreparável.
Em abril de 1979, Vô Walter descobriu um forte câncer no cérebro. E a partir dai travou uma luta contra ele, tendo ao lado a peça mais importante de sua vida, Idalina. Ela que o apoio, cuidou e nunca saiu de seu lado. Entre idas e vindas, o tratamento que foi feito ora em Juiz de Fora, ora no Rio de Janeiro, passou pelas mais delicadas situações.

A quimioterapia e os fortes medicamentos que ele tomava, implicaram no uso da desconfortável cadeira de rodas que no momento foi muito bem recebida. As noites eram passadas um ao lado do outro, e a Vó maravilha, o enlaçou mais uma vez. Prendia seus pijamas com alfinetes, para que se ele precisasse de ajuda na madrugada, ela estivesse pronta para ajudar.

O câncer foi muito forte e no final do ano seguinte, levou Walter de seu grande amor. Idalina como eterna apaixonada, nunca mais sentiu esse amor de marido e mulher, e prometeu se dedicar apenas a cuidar de seus filhos e netos. Guerreira e dedicada, perdeu ainda dois filhos levados de seus braços ainda cedo. Porém a família cresceu muito, e continua até hoje.

Walter e Idalina


Hoje Idalina ainda vive no mesmo endereço onde vivem também as melhores lembranças do seu casamento. Guarda cartas amareladas, retratos em todos os cômodos e um amor eterno junto ao peito. Gosta de ir a missa, cuidar do jardim, costurar, ler jornais e principalmente torcer em todo e qualquer tipo de esporte. Não gosta de nenhum tipo palavrão. Não abre mão de feijão no prato e de muita prosa no café das cinco. Mantém fiéis comadres como ela gosta de chamar. As vizinhas que batem no portão só para dizer "como seu jardim está bem cuidado Idalina."

É amiga, irmã, prima, tia, mãezinha, Vó e bisa. A família somando os filhos, genros e noras, netos e outros agregados, somam 64 Oliveiras. 64 Oliveiras apaixonados pela Vó maravilha que cuida de todos e reza por cada um todas as noites antes de dormir.


Por Juliana Brandi

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